Antes mesmo de escolher um prato para o jantar temos que escolher o restaurante em uma lista imensa do iFood, e antes de escolher o filme ou série ainda tem o desafio de escolher o streaming do dia!
Quanto mais opções em uma lista mais difícil é tomar uma decisão e escolher. Às vezes ficamos tão obcecados em analisar todas as possibilidades e consequências que acabamos não fazendo nada, assistindo a filme nenhum e jantando um sanduíche!
Essa experiência chama-se Paralisia da Análise, um fenômeno psicológico que afeta nossa capacidade de agir e ser produtivos. É o exato oposto da ação por impulso!
Este tema é tão interessante e antigo que se percebe a presença da curiosidade pelo fenômeno e obras de mais de 200 anos, e o termo “analysis, paralysis” consta do dicionário da língua inglesa de 1803.[1]
Até mesmo o “excesso de pensar” de Hamlet (Shakespeare), foi tema de um livro chamado “And Reason Panders Will’: Another Look at Hamlet’s Analysis Paralysis”, de 2015.[2]
Você também encontrará o tema com o nome de Paradoxo da Escolha[3], principalmente em materiais relacionados a design de produtos e marketing.
As disciplinas de negócios se apoiam na chamada Lei de Hick[4] e definem como uma boa prática dar o mínimo de alternativas de escolhas para o cliente, pois quanto mais opções ele vê disponível, mais difícil decidir e maior a probabilidade de não escolher nada. E que se você der opções, ajude o cliente a escolher (dicas, imagens, filtros, avaliações, sinopses, categorias, produtos semelhantes etc.).
Segundo Malcolm Gladwell, no livro Blink, a decisão num piscar de olhos,[5]
A parte do nosso cérebro que chega rapidamente a conclusões como essa é chamada de inconsciente adaptável e o estudo deste tipo de tomada de decisões é um dos mais importantes novos campos da psicologia.
(...) inconsciente adaptável é entendida como uma espécie de computador gigante que, de forma rápida e silenciosa, processa muitos dos dados de que necessitamos para nos manter funcionando como seres humanos.
A Paralisia da Análise é, portanto, um estado mental em que uma pessoa se torna tão consumida pela avaliação e comparação de diferentes opções que se torna incapaz de tomar uma decisão e agir. É como se o cérebro entrasse em um loop infinito de “e se”, impedindo a pessoa de avançar.
Esse fenômeno pode ocorrer tanto em situações simples e rotineiras, como escolher um produto no supermercado, quanto em situações complexas e importantes, como decidir uma carreira, um investimento ou um relacionamento.
Qual o problema de demorar para decidir?
Sabemos que nenhum extremo é bom, geralmente. Para tomar decisões de forma rápida sem que o arrependimento ocorra imediatamente em sequência é necessário que nosso cérebro vá buscar razões para a escolha em um vasto repertório de experiências e conhecimento. Quanto mais nosso repertório maior a chance de nossas decisões, mesmo as impulsivas, serem coerentes com o que queremos de resultado.
Não queremos nem impulso sem base, nem a inércia por não conseguir decidir, muito menos análise em excesso em emergências ou análise de menos em decisões para longo prazo.
A Paralisia da Análise pode nos levar a perder oportunidades, desperdiçar tempo, gerar ansiedade, frustração e arrependimento, além de prejudicar nossa produtividade, criatividade e autoconfiança.
Principais causas da Paralisia da Análise
Excesso de opções: vivemos em uma sociedade de consumo que nos oferece uma infinidade de opções para tudo. Isso nos sobrecarrega e confunde.
Medo de errar: e, claro, sofrer as consequências. Queremos saber que estamos fazendo a melhor escolha, mas isso nem sempre é possível. Assim, ficamos paralisados pelo medo do fracasso, da crítica, do arrependimento ou da perda.
Escolher é renunciar: Quanto mais opções temos, mais difícil é escolher uma, pois temos que avaliar cada uma delas e ainda lidar com o custo de oportunidade de descartar as outras.
Perfeccionismo: é a tendência que muitos de nós temos a buscar a perfeição em tudo o que fazemos, e isso pode se tornar um obstáculo para a ação e um convite à procrastinação. Ficamos presos em um ciclo de revisão e melhoria constante, sem nunca concluir ou compartilhar seus projetos.
Falta de clareza: outra causa da Paralisia da Análise é a falta de clareza sobre o que se quer, sore nossas necessidades essenciais, nossos valores inegociáveis, nossas expectativas. Quando não temos objetivos e valores claros e definidos, ficamos sem direção e sem critérios para tomar decisões.
Como confiar mais nos nossos instintos e evitar decisões e escolhas precipitadas?
Ou, como evitar a Paralisia da Análise?
Comece pelo que não quer: Se você está em um encontro com uma pessoa e logo de cara percebe que não quer o segundo encontro, qual a razão para insistir e imaginar que sua percepção pode mudar? Confie no instinto do desagradável!
Escreva seus objetivos e prioridades: antes de tomar uma decisão, é importante ter clareza sobre o que você quer alcançar, quais são seus valores, suas necessidades e suas expectativas. Assim, você pode definir seus critérios e suas prioridades, e filtrar as opções que não se encaixam no seu propósito.
Escreva seus valores inegociáveis: você pode estar diante de uma escolha em um cenário que não tem a menor experiência para tomar qualquer decisão racional. Neste caso, recorra à lista de valores inegociáveis, aquilo que você jamais abriria mão em sua vida, e exclua todas as opções que contrariem algum deles.
Limite suas opções: ao invés de tentar analisar todas as opções possíveis, tente reduzi-las a um número razoável, que você possa comparar facilmente. Você pode usar técnicas como a matriz de decisão, que consiste em atribuir pesos e notas para cada opção, de acordo com os critérios definidos. Para atribuir pesos utilize sua lista de objetivos, necessidades, valores...
Aceite a imperfeição: nenhuma decisão é perfeita, e nenhuma opção é isenta de riscos ou desvantagens. Por isso, é preciso aceitar que você pode errar, e que isso faz parte do processo de aprendizado e crescimento. Em vez de buscar a perfeição, busque a satisfação. Busque sempre a Melhor Decisão Viável.
Aceite voltar atrás: não tenha medo de recomeçar. Nunca é desperdício se você tentou algo e não teve o resultado esperado, mas aprendeu com isso. Tente, comece, e pivote se necessário. Desperdício é não começar.
Seja amigo do algoritmo: ensine as suas ferramentas digitais do que você gosta e o que não gosta, interaja com conteúdos dos quais você deseja ver mais, avalie, comente, salve, siga, deixe de seguir. Faça a inteligência artificial facilitar suas próximas escolhas.
Tenha um repositório de ideias: tenha um bloco de notas onde você anota toda e qualquer ideia que tem, mesmo que incipiente. Salve posts que possam te servir como referência, links para aprofundar uma pesquisa. Quando precisar criar algo, pode apostar que isso ajudará demais.
Tenha consciência do que é seu julgamento/trauma/pré-conceito: descarte todas as decisões rápidas que você tenha começado a tomar com base nisso e foque no que é fato/percepção/pós conceito. Não é um problema julgar. É humanamente impossível não julgar. Mas é importante ter consciência de se nossa mente está produzindo um julgamento ou verificando um fato.
A comunicação alienante da vida nos prende num mundo de ideias sobre o certo e o errado — um mundo de julgamentos, uma linguagem rica em palavras que classificam e dicotomizam as pessoas e seus atos.[6]
Uma coisa é reconhecer o enorme poder dos julgamentos instantâneos e das fatias finas, outra, muito diferente, é confiar numa coisa aparentemente tão misteriosa.[7]
E a dica mais prática, e que eu uso pra absolutamente tudo na minha vida:
Não desperdice o espaço da sua memória! Tenha listas de tudo: Há diversos aplicativos que você pode utilizar para catalogar os livros que você leu ou quer ler (eu uso o Skoob), listas de compras (Buy me a Pie, ou até mesmo lista de desejos das lojas), Filmes e Séries (TV Time, IMDb, Just Watch, Letter Box), tarefas (Asana, Trello, To Do List, Tasks). Eu nunca mais escolhi um programa de TV, um filme ou um livro indo direto na fonte. Eu acesso meus aplicativos, olho o que tenho na minha lista de desejos ou nos lançamentos e escolho a partir de uma lista infinitamente menor de opções. Também uso muito estes aplicativos para medir progresso e para lembrar de indicações quando me pedem.
Espero que esse conteúdo te ajude a economizar o tempo da sua preciosa vida tanto quanto me ajudam!
Um abraço,
Lu!
Referências:
[3] https://www.iebschool.com/pt-br/blog/analitica-web/usabilidade-e-ux/lei-de-hick-a-psicologia-por-tras-de-um-ux-mais-rapido/
[4] https://medium.com/@thiagofavero/lei-de-hick-oferecer-muitas-op%C3%A7%C3%B5es-pode-frustrar-seu-usu%C3%A1rio-1b89bdd3ee2e
[5] Gladwell, Malcolm. Blink: A decisão num piscar de olhos. Sextante.
[6] Rosenberg, Marshall B. Comunicação não-violenta. Editora Ágora.
[7] Gladwell, Malcolm. Blink: A decisão num piscar de olhos. Sextante.
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